sábado, 6 de outubro de 2012

Fallen - No começo

Helston, Inglaterra
Setembro de 1854
 
Por volta da meia-noite, seus olhos finalmente tomaran forma. A expressão neles era felina, parte determinada, parte hesitante - Prontos para causar problemas. Sim, aqueles olhos estavam igualzinhos. Alcançando as sombrancelhas finas e elegantes, e centímetros da cascata escura que era seus cabelos.
 
Ele estendeu o braço para avaliar seu progesso no papel que segurava. Era difícil trabalhar sem que ela tivesse na sua frente, mas, de qualquer modo, nunca conseguiria desenhar na presença dela. Desde que chegaram de Londres - Não, desde que a vira pela primeira vez-, Ele precisaram tomar cuidade para mantê-la sempre a distância.
 
Agora, ela o abordava diariamente, e cada dia era mais difícil do que o anterior. Era por isso que ele iria embora na manhã seguinte- Para a Índia, para as Américas, não sabia e tampouco se importava. Em qualquer lugar que parasse seria mais fácil do que estar ali.
 
Ele se enclinou dobre o desenho de novo, suspirando ao usar o polegar para retocar o carvão borrado que delineava o voluptuoso lábio inferior. Esse papel sem vida, um cruel impostor, era a única maneira de levá-la consigo.
 
Então, se endireitando na cadeira de couro da biblioteca, ele sentiu. Aquela brisa morna em sua nunca. Ela.
 
Sua mera proximidade dava-lhe a mais peculiar das sensações, como o calor  que emana de uma acha lenha, queimando até virar um monte de cinzas numa fogueira. Ele sabia sem precisar virar o rosto: ela estava lá. Escondeu o retrato no meio dos papéis amontoados em seu colo, mas não podia escapar dela.
Os olhos dele recaíram sobre o sofá estofado cor de marfim do outro lado do salão, onde apenas algumas horas antes ela aparecera inesperadamente, depois dos outros alunos de seu grupo, usando um vestido do anfitrião, que tocara uma bela música no cravo. Seu olhar cruzou a sala até a janela que dava para a varanda, onde no dia anterios ela surgira para ele com um punhado de peônias brancas nas mãos. Ela ainda achava que a atração que sentia por ele era inocente, que seus frenquentes encontros na varanda eram meramente... felizes coicidências. Tão igênua! Ele nunca contara a verdade - O segredo era um fardo que suportaria sozinho.
Ele se levantou e deu meia-volta, deixando os esboços para trás, sobre a cadeira de couro. E lá estava ela, encostada nas cornas de veludo, em seu simplis vestido branco.

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